A maternidade chegou duas vezes sem pedir licença, sem que eu me planejasse em todos os sentidos. Mudou completamente minha vida, meus caminhos, minhas escolhas e principalmente minha relação com tempo, com as prioridades.
Por duas vezes mergulhei no buraco vazio de se perder atrás dos filhos. Não encaro a perda como algo ruim. É perda no sentido de mergulho profundo no abismo mesmo. Assustador, sem garantias, algo que acontece longe do controle…
Foi muito complicado num primeiro momento entender e acolher esses sentimentos. Ser mãe jovem trouxe essas contradições ainda mais latentes…
E depois da fusão total, da entrega absoluta, agora com as crias crescendo… Quem sou eu novamente? Onde estão meus desejos e minhas vontades para além do servir e cuidar?
Fico pensando no que tenho feito pra resgatar a minha autoestima como mulher. A mulher que mora aqui dentro pra além da mãe dedicada, atenciosa e presente, cade?. É um desafio encontrar espaço pra mulher que fomos (e somos) se expressar. Como ela surge em meio ao cansaço, às noites mal dormidas, à todas as abnegações?
Eu percebi que ela cada vez mais clama por espaço mas que se contenta com pequenos gestos de atenção como colocar uma música alta quando estou perto de explodir, uma música que tenha conexão comigo e não com as crianças necessariamente. Lembrar as coisas que me completavam ou simplesmente conseguir ouvir minhas necessidades sem julgamentos é motivo de celebração.
A criança é mais feliz quando percebe sua mãe inteira porque eles sabem ler o não dito, eles enxergam pra dentro da gente, talvez nossa alma. Sintonizam e absorvem. Nós somos mais realizadas quando achamos o espaço dessa mulher surgir com força, leveza e liberdade dentro da gente.
A maternidade me trouxe um processo de autoconhecimento profundo. Encarar meus medos, minhas contradições e frustrações pelo caminho transmutando tudo em busca desse amor incondicional (e que difícil amar outro alguém além de todas as condições internas e externas). Eu percebi que pra exercer uma maternidade mais livre de crenças limitadoras e antigas eu precisava curar processos do bebê que fui, da criança que fui e da mulher que sou. E no meio de tudo isso, ainda me encontrar para além desse rótulo de mãe. Me encontrar mulher, eu mesma.
É um renascimento diário. Um jogo de parar, silenciar a casa – caos (interna e externa) e descobrir: pelo que – além deles – ainda bate forte meu coração???
Foto: @mairamatosfoto#marqueUmaMãe #maternidadeexaustão#mãededois
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